O mecanismo econômico que alavancou o mundo
Os fenícios, séculos antes de Cristo, tinham a navegação como uma das bases da sua economia. Para dar segurança ao negócio, os donos das embarcações estabeleceram um pacto. Quem perdesse o navio durante uma viagem teria o socorro dos demais, que se cotizariam (a famosa vaquinha) para repor o bem perdido. Antes, os babilônios utilizavam o mesmo expediente para substituir camelos mortos nas longas caravanas pelo deserto.
Sem esse acordo, os negócios (fundamentais para a evolução da humanidade) provavelmente não teriam prosperado, seja pela falência de muitos empresários ou pelo preço proibitivo das mercadorias que vendiam.
Embora ainda não tivesse esse nome, nem a organização atual, tratava-se de um seguro ou do estabelecimento de uma economia de grupo (mutualismo). Esse instrumento foi criado para administrar de maneira coletiva riscos que seriam insuportáveis individualmente. Permite que um desembolso viável garanta um bem muito mais valioso, como quando pagamos R$ 4 mil pelo seguro do carro e recebemos R$ 50 mil em caso de roubo ou de perda total. A mágica se dá porque a maioria não é roubada ou se envolve em acidentes, mas todos pagam os R$ 4 mil. Ou seja, aqueles que não precisam do ressarcimento financiam quem precisa.
Sem o seguro, é certo, não existiria a sociedade moderna. É impensável, por exemplo, que um avião decole sem a garantia de compensação em caso de sinistro. E se algum empresário ainda assim se arriscasse, seria obrigado a cobrar uma passagem que quase ninguém poderia pagar, já que a empresa precisaria fazer caixa próprio para arcar com eventuais prejuízos. O mesmo raciocínio vale para todas as áreas de atividade, para o patrimônio pessoal (imaginem um incêndio destruindo um imóvel financiado e sem seguro) e, mais recentemente, para cuidados com a saúde.
Em princípio, a saúde suplementar é um tipo de seguro e funciona com a mesma lógica. Os beneficiários que não necessitam de cuidados odontológicos ou médicos financiam os que utilizam os serviços. Por isso, o preço do plano é inferior ao do conjunto de tratamentos que ele eventualmente vai proporcionar. Uma apólice de R$ 40,00, portanto, é fruto de um mecanismo financeiro, e não de desvalorização da odontologia ou da medicina. Pelo contrário, aumenta o valor dessas ciências ao permitir que seus benefícios alcancem um número maior de pessoas.
No caso da saúde, há um incremento. Enquanto os outros seguros protegem um bem adquirido, os planos permitem ao cidadão acesso a tratamentos que ele não poderia ter. Não é apenas evitar um prejuízo, mas oferecer um ganho. Mais do que estabilidade econômica, é ascensão (ou inclusão) social.
Como acontece há milênios, os seguros continuarão sendo empregados em favor do desenvolvimento da sociedade. E o mesmo pode se dizer da saúde suplementar em benefício do bem-estar das pessoas.
O texto faz parte da segunda edição da Revista Conexão Dentista que começou a ser distribuída hoje aos credenciados.