Existem especialidades e regiões mais promissoras?

Palavra do especialista Por Conexão Dentista - 19/11/18

Diante do cenário de crise, a revista Conexão Dentista perguntou a três especialistas se existem especialidades da odontologia ou regiões do país que podem ser escolhidas dentro de uma estratégia empresarial focada no retorno financeiro do consultório.  

 

Plínio Tomaz, cirurgião-dentista, pós-graduado em marketing e especialista em administração.

O lucro pode vir de qualquer especialidade, mas isso depende de uma boa gestão. O cirurgião-dentista precisa calcular a MCU (margem de contribuição unitária), ou seja, quanto cada procedimento tem de margem de lucro e quantas horas são necessárias para a realização.

Nem sempre o mais caro é o mais lucrativo. Um procedimento A, que cobramos R$ 1.000,00, pode dar lucro de R$ 300,00, enquanto um procedimento B, pelo qual cobramos R$ 600,00, pode render os mesmos R$ 300,00.  Só que o A gera esse lucro consumindo duas sessões de 60 minutos enquanto o B apenas três sessões de 30 minutos. O A proporciona, portanto, R$ 300 em 120 minutos e o B os mesmos R$ 300 em 90. O A tem MCU/hora de R$ 150,00 enquanto o B tem MCU/hora de R$ 200,00. Em outras palavras: se a clínica só fizer o procedimento A terá lucro menor no fim do mês do que se só fizer o procedimento B.

Em geral, a odontopediatria tem MCU menor, mas isso não é sempre uma verdade. Próteses fixas costumam ficar nos extremos. Vejo clínicas e profissionais com alta MCU/hora nas próteses e outros com quase prejuízo. Isso está relacionado com produtividade, objetividade na execução, precisão da moldagem e da escolha do protético etc.

Quanto às regiões, é preciso pesquisar muito cidade por cidade e observar lugares com menor concentração CD/habitante. No caso de especialistas exclusivos (que só fazem a especialidade), como endodontistas e cirurgiões, por entender que os verdadeiros clientes são outros cirurgiões-dentistas, o critério de busca talvez seja onde há maior probabilidade de encaminhamento.

Mas o que temos são lugares com concentrações muito acima do razoável, como é o caso da Grande São Paulo, Grande Curitiba, Brasília e entornos, Campinas (SP), Rio de Janeiro (capital) etc. Nessas regiões, o problema do excesso de profissionais oferecendo os mesmos serviços (aos olhos dos clientes) complica ainda mais a questão e joga os preços para baixo. É extremamente necessário que trabalhem na construção de diferenciais significativos, mas sempre sob o ponto de vista do cliente.

 

Marcos Rocha, mestre em odontologia pela USP e pós-graduado em administração de empresas.

Conheço clínicos-gerais que têm rendimentos impressionantes e atuam em todas as especialidades. Lógico que áreas como estética, implantes e ortodontia têm um apelo maior e seus ganhos acabam sendo mais elevados em médio prazo, mesmo tendo um investimento inicial maior na aquisição do conhecimento (cursos, livros, congressos etc.).

Em relação à distribuição dos profissionais de odontologia no Brasil, existe uma grande discrepância, com a maior parte concentrada nas capitais e grandes cidades, o que acaba gerando locais com falta de profissionais em diversas partes do Brasil.

Somos um país com proporções continentais e, infelizmente, ainda temos muitos brasileiros que nunca foram atendidos por um dentista. Isso se deve muito a uma falta de política pública que contemple essas populações mais carentes e também aos locais mais afastados. 

Sou docente em uma faculdade em São Paulo e, de todos os meus alunos, somente um já tem como objetivo se formar e atender em uma cidadezinha no interior da Bahia. Ele me disse que o dentista mais próximo dessa cidade fica a cerca de 120km. Quantas outras cidades vivem o mesmo dilema em nosso pais?

 

Roberto Caproni, graduado em odontologia e em administração de empresas. Pós-graduado em marketing e em psicologia. Especialista em redes e franquias na área da saúde.

Com certeza, existem especialidades que geram mais lucro para um profissional de saúde, assim como existem regiões que são mais promissoras do que outras. Vamos considerar que um dentista A faça implantodontia e prótese sobre implantes numa cidade pequena, enquanto um dentista B faz as mesmas especialidades em São Paulo, capital. Quem ganha mais? Com certeza, o dentista B que trabalha em São Paulo. No entanto, não são apenas essas variáveis que devem ser consideradas. A economia tem uma equação que pode nos ajudar:

Ganho real = Ganho nominal – Preços

Conforme essa equação, o dentista que vive na cidade pequena pode estar tendo um ganho real maior do que o de São Paulo, já que os preços pagos para viver numa cidade do interior são muito menores do que aqueles pagos na capital paulista. Considere o aluguel do espaço do consultório ou da clínica, os gastos com moradia e a qualidade de vida de morar no interior ou na capital. Numa cidade do interior, os filhos podem brincar na rua. Em São Paulo, capital, isso seria impensável. E, ainda, quanto maior e mais rica a cidade, maior será a concorrência.

Para escolher onde trabalhar, temos, sim, que verificar onde os ganhos reais são maiores.  Para isso, precisamos considerar a especialidade e o lugar onde vamos atuar. No entanto, mais do que isso, devemos considerar o que nos deixa felizes e o que queremos da nossa vida pessoal, familiar e social. Precisamos entender que o dinheiro é um meio, e não um fim em si mesmo. O que importa não é o saldo que tenho no banco, mas o que esse dinheiro é capaz de gerar para mim e para minha família em termos de tranquilidade e de segurança quanto ao futuro.

 

FONTE:
Revista Conexão Dentista
19/11/2018

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