“Precisamos de uma campanha de valorização da Odontologia”

Palavra do especialista Por Conexão Dentista - 29/06/18

“Precisamos de uma campanha de valorização da Odontologia”

Além de presidente da seção de Minas Gerais da Associação Brasileira de Odontologia (ABO), o Dr. Carlos Augusto Jayme Machado tem duas clínicas que são credenciadas à Amil Dental. Ele revela que, no dia a dia, já está sentindo os efeitos da crise. “Desde janeiro, o movimento de pacientes particulares caiu 30%”, afirma.

Para ele, além de medidas pontuais para enfrentar as dificuldades recentes, são necessários avanços estruturais para tornar a odontologia mais valorizada, mais familiar aos brasileiros e, consequentemente, menos vulnerável às crises que, cedo ou tarde, reaparecem.

Veja os principais trechos da entrevista concedida para a revista Conexão Dentista.

Conexão DentistaDr. Carlos, os consultórios odontológicos sentirão os efeitos dessa crise na economia?

Carlos Augusto Jayme Machado: De certa forma, por oferecermos um serviço de primeira necessidade, acredito que os efeitos serão menos severos do que em outros setores da economia. Mas, ainda assim, serão sentidos.

No meu caso, por exemplo, desde janeiro percebi uma queda de 30% nos pacientes particulares. Entre os beneficiários de planos, a retração foi menor, pois muitos ainda mantêm o benefício concedido pelas empresas. Mesmo assim, identificamos outro problema nesse grupo, principalmente nas classes D e E. São pacientes faltando às consultas para economizar dinheiro do transporte. É uma situação difícil. De qualquer maneira, as operadoras estão sendo importantes para diminuir o tempo ocioso.

CD: Qual deve ser a atitude do cirurgião-dentista neste momento?

CAJM: Falo com minha equipe que devemos nos inspirar na parábola da formiga e da cigarra: Trabalhar mais e gastar menos. Com a previsão de queda de faturamento, é necessário rever custos. Não faz sentido investir em aumento de infraestrutura e novos equipamentos, por exemplo, se dificilmente vamos ter mais demanda de pacientes. Nesse sentido, acredito que seja o momento de se limitar às despesas fixas, que vão manter o consultório em funcionamento sem diminuir a qualidade. Isto é importante: manter a qualidade. Não estou dizendo para fazer economia comprando materiais inferiores ou substituindo aquele laboratório confiável por outro que cobre menos. Isso não pode.

Por outro lado, sugiro manter o investimento profissional na marca. Atualizar-se e destacar os diferenciais. É fundamental ser diferente.

CD:  É comum ouvir que existem cirurgiões-dentistas demais no país. O senhor concorda com essa afirmação? Isso prejudica o mercado em períodos de crise?

CAJM: Acho que temos profissionais suficientes. Não é demais, mas também não necessitamos de muitos outros. Não se justifica, por exemplo, a abertura indiscriminada de cursos de odontologia.

É fato, porém, que esses cirurgiões-dentistas estão mal distribuídos geograficamente. Em alguns lugares há muitos e, em outros, poucos. Nem preciso falar do Brasil. Em Minas Gerais, podemos observar isso claramente. É gritante a desproporção entre o número de profissionais da Grande Belo Horizonte e do Vale do Jequitinhonha.

CD: Essa realidade pode servir como estratégia empresarial para o cirurgião-dentista, ou seja, procurar uma região com menos oferta para se instalar?

CAJM: Pode ser desde que haja um planejamento bem-feito. É certo que será necessário um investimento para esse profissional se estabelecer em outra região e um processo de adaptação. A partir disso, ele deve avaliar se terá o retorno esperado.

Independentemente de iniciativas individuais, é preciso buscar uma solução para essa má distribuição da assistência.

CD: Se, por um lado, muitos dizem que há cirurgiões-dentistas demais, por outro não existem pacientes de menos?

CAJM: Sim. Por isso, precisamos de uma campanha de valorização da odontologia. Inicialmente, que divulgue os benefícios da saúde bucal para a população. Temos que convencer mais gente de que é importante se consultar de seis em seis meses. Que, se ele fizer isso, provavelmente não vai ter aquela dor de dente que causa tanto transtorno. Alertar que problemas bucais podem matar. Assim, aquela maioria que não deixa de ir ao médico durante as crises porque sabe que é prioridade também vai continuar indo ao cirurgião-dentista.

Além disso, é preciso mais organização institucional. Temos que, como classe, ser mais efetivos na defesa da profissão e dos profissionais. Ter mais influência no Legislativo e nas outras autoridades. Temos que participar das decisões.

 

FONTE:
Revista Conexão Dentista
29/06/2018

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