A Odontologia suplementar e a saúde bucal do brasileiro
O Brasil abriga 11% dos dentistas do mundo, de acordo com o Atlas Mundial de Odontologia de 2015. Isso representa mais de 280 mil profissionais em atividade, tornando-o o maior mercado do globo. Para melhor exemplificar, existe no País um dentista para cada 715 habitantes. Profissionais que estão, de acordo com relatório da ONU, entre os melhores do mundo. 70% deles estão concentrados no Sul e Sudeste do País, o que leva ao outro lado dos dados.
Segundo a Pesquisa Nacional de Amostra de Domicílios de 2015, 11,7% dos brasileiros nunca estiveram em um dentista. Isso equivale a 24 milhões de pessoas que nunca obtiveram cuidado com a saúde bucal; sendo as regiões Norte e Nordeste as mais prejudicadas. “Os levantamentos epidemiológicos conduzidos pelo Ministério da Saúde em 2003 e 2010 apresentam melhorias no quadro de saúde bucal de crianças, adolescentes e adultos. Entretanto, persistem as grandes desigualdades de natureza regional vinculadas a critérios sociais”, resume o Dr. Marco Antonio Manfredini, secretário do Conselho Regional de Odontologia de São Paulo (Crosp). Por conta dessa discrepância, acentuada pela falta de capacidade do sistema público em atender as demandas odontológicas e os altos valores do atendimento particular, o sistema de planos privados vem avançando e dando autonomia especial aos odontológicos. Se antes eles eram um complemento do plano médico, hoje são encarados – especialmente por aqueles que já possuem cultura de prevenção – como uma alternativa de manter o acesso a esse cuidado.
“A relevância que os planos odontológicos ganharam pode ser constatada pelo comportamento da carteira, que cresceu no mercado na contramão da assistência médica”, afirma o diretor-executivo da Amil Dental, Alfieri Casalecchi. O executivo percebe ainda que o perfil daqueles que mais procuram pelo benefício são as mulheres com idade entre 25 e 40 anos. Já a faixa mais consolidada de beneficiários hoje é a que vai dos 30 aos 39 anos: dos 22 milhões de brasileiros que possuem algum tipo de plano dental, essa é a faixa com maior número de vidas, de acordo com dados de março de 2017 da ANS.
Os planos odontológicos se consolidaram como instrumento de acesso a tratamentos e estímulo à promoção da saúde bucal e prevenção de doenças. O fato de muitas pessoas terem acesso aos planos médicos, mas não terem o odontológico, favorece a expansão do segmento, conforme lembra Geraldo Almeida Lima, presidente do Sindicato Nacional das Empresas de Odontologia de Grupo (Sinog): “Considerando que apenas 11,4% da população brasileira possuem algum tipo de plano odontológico e a existência de um gap a conquistar de mais de 25 milhões de beneficiários que possuem apenas planos médico-hospitalares, este segmento pode crescer muito mais”, comemora.
Uma das dificuldades enfrentadas no Brasil é o descuido com a prevenção. As pessoas de fato utilizam o serviço de dentistas quando precisam, mas ainda é pequeno o interesse por medidas preventivas. “No Brasil, culturalmente, grande parte da população ainda mantém a prevalência de ir ao dentista apenas para fazer os tratamentos curativos, ou seja, quando o problema bucal surge, se agrava e é preciso o tratamento”, lamenta Lima. A Pesquisa Nacional de Saúde, realizada pelo IBGE em 2013, mostrou que 55,6% dos brasileiros não se consultam com dentistas anualmente. “Essa reversão de valores é extremamente necessária para que todos tenham em vista que é preciso fazer, primeiramente, a prevenção de doenças para que haja a adequada saúde bucal”, completa.
Quem entra na carteira de maneira geral, segundo as operadoras entrevistadas, se sente satisfeito, mas não deixa de procurar por novidades e diferenciais para manter o plano. “Cada vez mais, nossos clientes buscam procedimentos ligados à prevenção, mas, além disso, em pesquisas de opinião realizadas com nossos beneficiários, notamos uma demanda por coberturas estéticas”, sinaliza Casalecchi, da Amil. Tanto é que o Conselho Federal de Odontologia autorizou, em novembro de 2016, a aplicação de botox para fins estéticos por cirurgiões dentistas. Antes dessa data, esses profissionais já utilizavam a substância, mas apenas para tratar de algumas desordens funcionais, como o bruxismo. Embora nem todas as operadoras tenham aderido à modalidade, esse é um indicativo do que os clientes mais maduros poderão exigir de suas operadoras no futuro.
Mas, antes do futuro, a realidade: levar saúde bucal a quem não tem e diminuir a incidência de doenças associadas à precariedade de higiene bucal. “Os planos odontológicos são um forte aliado para que a população tenha acesso aos tratamentos preventivos e de profilaxia, além de todos os outros relacionados na cobertura mínima e que garantem a manutenção da saúde bucal. Os planos odontológicos, inclusive, suprem uma grande demanda dos brasileiros que não têm acesso aos consultórios particulares”, exemplifica Lima.