Comunicação clara é fundamental para evitar conflitos

Gestão Por Conexão Dentista - 08/12/22

Os cirurgiões-dentistas estão sujeitos a processos judiciais movidos por pacientes. Nesse contexto, cada vez mais, é preciso pensar na importância da integração entre a anamnese, o planejamento do tratamento e a expectativa do público atendido para não gerar dúvidas. A anamnese é a parte mais importante do prontuário, mas, muitas vezes, pode ser deixada de lado pelas(os) profissionais, por conta da falta de tempo e do excesso de atividades. No entanto, saber o histórico de cada paciente influencia na qualidade dos serviços odontológicos e, por essa razão, pode evitar problemas.

Nesse contexto, Soraya Monteiro Guedes Fernandez, cirurgiã-dentista e presidente da Câmara Técnica de Odontologia Legal do CROSP, aconselha a categoria a dedicar mais tempo ao solicitar a assinatura do paciente. Outros pontos importantes que devem constar é o histórico do tratamento escrito pela(o) profissional, como as faltas e consultas remarcadas”, salienta a odontolegista.

“Esse relatório com a rubrica do paciente, mais tarde, pode servir de prova judicial na defesa de uma(um) cirurgiã(o)-dentista. Ultimamente, tornou-se recorrente os pacientes processarem as(os) profissionais de Odontologia. Em parte, isso se deve à expansão da propaganda na mídia, que coloca os resultados em um patamar muito elevado. Assim, as expectativas das pessoas estão cada vez maiores e, nem sempre, é viável atendê-las”, diz.

Outra recomendação é formalizar a prestação de serviços odontológicos em um contrato no qual os direitos e os deveres de ambas as partes levantamento de dados sobre o histórico do paciente. Dessa forma, é possível saber detalhes como, se a gengiva costuma sangrar, como é o hábito de higiene bucal, se a pessoa utiliza o fio dental, se tem alguma doença, entre outros exemplos. “Quando um paciente entra na minha sala, por exemplo, sempre entrego a anamnese e acompanho com ele em uma conversa bem franca”, reforça Soraya.

Na maior parte dos casos, a anamnese mistura questões dissertativas e alternativas para que o paciente responda “sim” ou “não”. Porém, uma boa forma de a(o) cirurgiã(o)-dentista se precaver de possíveis denúncias é incluir a opção “não sei”. “Imagine a seguinte cena: perguntamos se a pessoa teve febre amarela, mas ela simplesmente não sabe, não se lembra. Quando as escolhas são restritas a ‘sim’ ou ‘não’, a tendência é que a resposta seja negativa. Contudo, se existe a escolha ‘não sei’, o profissional pode agir preventivamente para tratar como se ela já tivesse tido a doença. Isso pode impedir muitos problemas de relacionamento e de conflitos no Judiciário”, afirma a cirurgiã-dentista.

Além desse tipo de informação, há outras situações nas quais o paciente não tem a resposta, fato que pode, mais tarde, interferir no resultado da execução do trabalho. Nessa circunstância estão as alergias a medicamentos, por exemplo.

Depois de a anamnese ser concluída, a(o) cirurgiã(o)-dentista deve pedir que o paciente assine o documento que respondeu. Além disso, é importante que esse arquivo fique guardado em segurança, seja em consultórios ou clínicas odontológicas. “Nas consultas, a(o) profissional deve incluir no prontuário odontológico o procedimento realizado, a data em que atendeu e solicitar a assinatura do paciente. Outros pontos importantes que devem constar é o histórico do tratamento escrito pelo profissional, como as faltas e consultas remarcadas”, salienta a odontolegista.

“Esse relatório com a rubrica do paciente, mais tarde, pode servir de prova judicial na defesa de uma(um) cirurgiã(o)-dentista. Ultimamente, tornou-se recorrente os pacientes processarem as(os) profissionais de Odontologia. Em parte, isso se deve à expansão da propaganda na mídia, que coloca os resultados em um patamar muito elevado. Assim, as expectativas das pessoas estão cada vez maiores e, nem sempre, é viável atendê-las”, diz.

Outra recomendação é formalizar a prestação de serviços odontológicos em um contrato no qual os direitos e os deveres de ambas as partes estejam minuciosamente descritos. Nas cláusulas contratuais, é recomendável que as(os) profissionais deixem evidente as eventuais alterações que podem ocorrer ao longo dos procedimentos. “É explicar de forma direta: podem ser necessários exames complementares durante o tratamento, como radiografias panorâmicas ou periapicais”.

O cirurgião-dentista deve passar essa mensagem em uma linguagem direta e objetiva, de modo que o indivíduo realmente a(o) compreenda. Assim, em caso de alterações no programa de tratamento — e consequentemente no valor a ser cobrado —, haverá respaldo para uma defesa na hipótese de uma ação judicial ser movida. “É muito comum a seguinte reclamação: um diagnóstico prévio aponta para uma restauração, mas, na hora de mexer, percebe-se que se trata de um canal. Por isso, o preço será maior do que o anteriormente estimado. Essa é uma questão muito difícil para os leigos entenderem. Por esse motivo, a explicação tem que ser bem didática, antes do tratamento iniciar”.

Mais um ponto importante é informar ao paciente que, embora as(os) profissionais dominem as técnicas, cada organismo reage de um jeito.

Para pacientes com doenças pré-existentes, a classe odontológica deve pedir por escrito autorização dos médicos especialistas. Ou seja, se um paciente é diabético, o ideal é enviar uma carta ao médico com o planejamento odontológico. Dessa forma, pode-se conseguir um aval mais técnico para dar continuidade às intervenções. O mesmo vale para pacientes cardiopatas ou em tratamento de câncer, entre outras situações semelhantes.

Mais um ponto crítico da anamnese são os casos em que o paciente, por algum motivo, sente-se constrangido em dar a resposta para a(o) cirurgiã(o)-dentista. “Por essa razão, vale muito a pena investir um tempo em um diálogo aberto. No olho no olho, conseguimos identificar situações mais delicadas, o que é fundamental para prevenir complicações”, explica a especialista.

Situações emergenciais devem ser documentadas

Também é uma questão relevante os atendimentos emergenciais. Não raro, um paciente solicita uma solução provisória, principalmente por razões estéticas. O cirurgião-dentista deve se resguardar e pedir que seja assinado um documento no qual o paciente confirma que tem ciência de que aquele procedimento é temporário. “A pessoa quebra o dente da frente e tem uma entrevista de emprego ou outro compromisso social importante. Desse modo, ela pede que seja dada uma solução momentânea. Nesses casos, é fundamental documentar que o paciente foi avisado que aquele não é um método definitivo e os riscos envolvidos nessa técnica”.

Recomendações ao paciente precisam ser registradas

Quando um tratamento requer um cuidado por parte do paciente para ser bem-sucedido, é imprescindível registrar que ele foi informado a respeito dessa indicação. Por exemplo: no caso de uma restauração muito grande, é crucial que o cirurgião-dentista peça que a pessoa assine um documento evidenciando que está ciente de que não deve morder alimentos muito duros. “Por mais que a(o) profissional tenha a radiografia para comprovar o resultado final do procedimento, ocorre de o paciente alegar que não foi avisado sobre a restrição. Nesses casos, o risco de o cirurgião-dentista sofrer uma injustiça é alto. O juiz não necessariamente entende as técnicas odontológicas. Daí a importância dos registros”, diz Soraya.

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