Cursos livres ensinam a melhorar a gestão
Não importa o tipo nem o tamanho do negócio. De uma loja de sapatos a uma startup milionária, o empreendedor que quer abrir uma empresa ou expandir uma marca precisa de capacitação constante. A questão é o que estudar e de que forma.
Para professores e especialistas em empreendedorismo há um consenso sobre os temas básicos: gestão financeira, de pessoas e marketing.
“É imprescindível se aprofundar nestes três pilares porque são eles que definirão o futuro ou o fracasso do negócio”, diz Edgard Barki, coordenador do centro de empreendedorismo da FGV (Fundação Getulio Vargas).
Em gestão financeira, o empreendedor aprende a lidar com fluxo de caixa, retorno de investimento, estoque e até a necessidade ou não de empréstimos no futuro.
É com o marketing que ele definirá quais clientes quer conquistar e de qual maneira, seja por anúncios em redes sociais ou em ponto de vendas. Já a gestão de pessoas é um dos assuntos mais complexos de serem absorvidos, em especial pelas pequenas empresas.
De acordo com Barki, muitas vezes os primeiros funcionários de um novo negócio são amigos ou membros da família. Pessoas de confiança, mas sem a qualificação ideal. “É preciso que o gestor entenda que precisa ter equipes bem preparadas para a empresa crescer”, diz.
Outros cursos dependem mais do ramo de atuação. “Às vezes estudar logística faz mais sentido para um empreendedor, e tecnologia, para outro”, diz ele.
De que maneira as matérias serão aprendidas não importa. O que faz diferença é como o conteúdo é mais bem aproveitado por cada um, diz Marcelo Nakagawa, professor de empreendedorismo do Insper.
“Se a pessoa aprende melhor na prática, cursos dinâmicos são os indicados. Se estuda melhor em contato com outras pessoas, marcar cafés com mentores pode ser mais útil do que fazer um curso online. Cada pessoa aprende de um jeito”, afirma.
Ainda que os cursos básicos sejam iguais, há diferenças na capacitação para os que querem abrir uma startup. Enquanto nos negócios tradicionais o planejamento é baseado em estoque, custos e funcionários, nas startups é preciso aprender como transformar ideias em protótipos rentáveis, antes de levá-las ao mercado, segundo Nakagawa.
O empresário Bruno Brigida, 29, procurou em 2018 o Empreenda Aí, escola focada em negócios de impacto social, para promover o Clube da Preta, fundado com a sócia, Debora Luz, 29, um ano antes.
Trata-se de um clube de assinaturas que reúne mais de 90 fornecedores negros do país, antes vendedores ambulantes de roupas e acessórios da cultura afro-brasileira.
“Vimos que os empreendedores negros tinham menos negócios alavancados por bancos e menos oportunidade financeira. Com o clube, eles divulgam seus trabalhos e ganham uma margem de lucro maior”, explica Bruno.
Para este ano, a previsão é que o clube fature R$ 80 mil, sendo que 40% deste valor voltará para o bolso dos vendedores. Atualmente, a empresa conta com 280 clientes ativos.
Formado em Administração, Bruno acredita que o Empreende Aí o ajudou a ter certeza sobre o que queria fazer. “Eles ensinam com uma linguagem simples como gerir um negócio social, do caixa ao controle do estoque. Também fiz um curso do Sebrae, que me ajudou a enxergar as dificuldades e vantagens do modelo de negócios”, diz.
Quando deixou o emprego de bancária para abrir uma loja de sapatilhas com o marido, em Santo André, região metropolitana de São Paulo, Juliana Carvalho, 33, procurou capacitação pela internet. Estudou tudo o que podia sobre gestão em cursos gratuitos antes de abrir o ponto e começar a vender sapatilhas a preço de custo.
“Vi que muitas vendedoras porta a porta, comuns na periferia, nos procuravam para revender os produtos e decidi investir em uma loja online para elas”, afirma.
Juliana também cursou gestão no Empreende Aí antes de lançar, em julho, a loja online Minha Querida Sapatilha. Em quatro meses, a empresa faturou R$ 200 mil com vendas para todo o país.
Frequentar os cursos que os clientes fazem para entender como eles pensam está sendo o jeito que Gustavo Maia, 34, sócio da Colab, encontrou para expandir a empresa. A startup, criada em 2013, é uma rede social ofertada gratuitamente às prefeituras. Por meio dela, cidadãos conseguem apontar com detalhes e imagens melhorias que precisam ser feitas na cidade.
No primeiro ano de operação, a Colab recebeu um aporte de investidores, cortado um ano depois. O caixa só foi reposto por um novo investidor em 2015, quando Maia e o sócio entenderam que seria preciso cobrar por outros serviços.
“Sempre tomamos café com empreendedores, mentores e clientes para entender o mercado, mas tivemos de nos aprofundar para saber como agregar consultoria de gestão aos governos”, diz ele, que atualmente cursa MBA em liderança e gestão pública.
Ainda que siga com a oferta gratuita para cem prefeituras do país, a Colab espera faturar neste ano R$ 2,5 milhões com os contratos remunerados fechados com outras 12 prefeituras. Os contratos chegam a R$ 500 mil, conforme a população da cidade e os serviços contratados.